segunda-feira, 18 de junho de 2007

Pergunta e resposta

- As diferenças entre o masculino e o feminino estão cada vez mais diluídas. O que é que hoje pode definir um género e outro?
- Em cada sociedade, em cada momento histórico, em cada cultura existem uma gama de comportamentos possíveis. A que podemos chamar paleta de cores possíveis, de comportamentos gerais. Destes comportamentos atribuem-se determinadas cores ao masculino e outras tantas ao feminino. Foi acontecendo que as mulheres passaram a ser capazes de chamar para si a gama de cores que fazia parte da atribuição ao sexo masculino. Já são muito poucas as cores reclamadas pelas mulheres em relação às quais dizemos «Oh, que estranho».

- Os papéis do feminino passaram a ser quase todos os possíveis.
- Quem ainda não conseguiu ter o mesmo ganho foram os homens. E isto porque os papéis femininos foram tão desvalorizados historicamente... A condenação de dois homens se deitarem um com o outro não era por se deitarem um com o outro. Era deitarem-se como se fosse com uma mulher!

- A génese é essa?
- A Bíblia diz isto: «Nunca te deitarás com um homem como com uma mulher». Platão, na Grécia Antiga, dizia também isto: «Não te comportarás como uma mulher».

- Não era tanto a ideia de desvirtuar o que seria uma ordem da natureza, na qual os diferentes se encaixam, mas a desvalorização que estava implícita no comportamento?
- Está escrito assim. Claro que a interpretação depende de quem leia. Este sentido de desvalorização está aqui presente. Sempre foi mais complicada, porque sujeita a uma desvalorização maior, a possibilidade de um homem ir buscar uma cor da paleta atribuída às mulheres do que o contrário. E quando isto acontece, é visto negativamente. Está sujeito ao riso, à chacota.


As perguntas são de Anabela Mota Ribeiro e as respostas de Gabriela Moita. A entrevista foi publicada na Revista Elle, em 2005.

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